Exposições Internacionais, como as Feiras Mundiais de outrora ou as Expo do século XXI, parecem hoje coisa do passado. Esses mega eventos de escala mundial foram responsáveis por apresentar ao mundo novas tecnologias e soluções construtivas inovadoras, eles introduziram algumas das mais radicais mudanças no mundo da arquitetura assim como criaram marcos que transformariam para sempre a paisagem de nossas cidades. Ao longo das inúmeras feiras e exposições mundiais já realizadas, podemos acompanhar o desenvolvimento do próprio discurso arquitetônico—desde o exuberante Palácio de Cristal de 1851 até a última, e ainda não realizada, Expo 2020 de Dubai.
Sediar uma Exposição Internacional já foi considerada uma honra ou uma forma de prestígio, uma oportunidade para apresentar ao mundo idéias e ideais. Atualmente, a acirrada concorrência por sediar uma Feira Mundial transformou-se em uma disputa de poder de caráter meramente econômico. Arquitetos e arquitetas eram convidados e até estimulados a explorar novas soluções, a transcender os limites conhecidos e experimentar novas idéias e conceitos. Feiras Mundiais eram vistas como uma espécie de “catálogo do futuro da arquitetura”. O Pavilhão Alemão concebido por Mies van der Rohe em 1929, por exemplo, foi construído como um manifesto modernista, um dos mais importantes símbolos de toda uma época. A Torre Eiffel, considerada hoje o mais importante símbolo da capital francesa, foi construída como uma estrutura temporária para a Feira Mundial de Paris de 1899. O Palácio de Cristal de Londres, ou o Jackson Park de Chicago assim como o Habitat 67 de Montreal também foram criados no contexto de Exposições Mundiais.
Entretanto, de alguns anos para cá, esses eventos parecem esvaziados de todo e qualquer sentido. Em 2010, a Feira Mundial de Xangai passou quase desapercebida, pelo menos para a maioria de nós. A situação não foi muito diferente com a Expo Milão de 2015. Então, o que é que anda acontecendo? Será que as Feiras Mundiais voltarão a chamar a atenção dos arquitetos e arquitetas? Se formos considerar o nosso atual contexto pandêmico, parece não haver nenhum futuro para estes disparatados espetáculos. Entretanto, o problema de fato reside nos motivos e interesses que estão por trás da organização de um evento como este. Foi durante o período da guerra fria que as Feiras Mundiais chegaram ao seu auge, um momento no qual as duas grandes potências do mundo disputavam uma posição de poder e influencia no mundo, correndo para se mostrar tecnologicamente superior e mais avançada que o seu maior rival. Em geral, as Feiras Mundiais eram vistas como uma espécie de “campo neutro”, um palco onde os Estados Unidos e a União Soviética se revezavam para exibir-se para o mundo. Neste contexto, a arquitetura desempenhou um papel fundamental, senão o mais importante. Em termos de conteúdo, com o passar dos anos, as Feiras Mundiais deixaram de ser vistas como um instrumento para a promoção da criatividade, inovação e novas tecnologias, assumindo o caráter de um “concurso de festa à fantasia”. A importância não reside mais no conteúdo de um pavilhão, mas na forma como o mesmo se apresenta. Com o fim da guerra fria, muitos países sentiram que já não havia mais nada a se provar, e pouco a pouco as Exposições Mundiais foram sendo esvaziadas de seu conteúdo ideológico.
Acontece que, o propósito das Feiras Mundiais também parece ter mudado ao longo dos últimos anos. Ao invés de propor soluções para o futuro, nos induzindo a imaginar como seria o mundo de amanhã, como na famosa Feira Mundial de Nova Iorque de 1964, as Expos do século XXI parecem se concentrar mais em problemas que não tem nada a ver com a arquitetura e com o espaço urbano. E embora exista de fato um crescente interesse em restabelecer o papel da arquitetura como uma forma de se pensar o futuro, como temos visto nos projetos curatoriais das mais importantes bienais de arquitetura do mundo, o grande debate hoje gira em torno da “digitalização” da arquitetura e de seus processos. No atual contexto pandêmico e com todas as incertezas que parecem pairar sobre nossas cabeças, a “arquitetura digital” parece ganhar ainda mais força à medida que as exposições internacionais seguem perdendo território.
Em seus anos de glória, as Exposições Internacionais operavam como um símbolo do progresso humano e tecnológico, da imaginação e criatividade. Embora muito disso tenha se perdido, também em razão das restrições que nos foram impostas ao longo dos últimos anos, é preciso voltar a pensar na arquitetura como um instrumento de reflexão e que nos faça pensar sobre o que o futuro nos reserva.